O diálogo do Design com outras teorias do conhecimento

Os posicionamentos dos diferentes especialistas da área abre a discussão sobre se o design é ou não uma disciplina.

Rutilio García Pereyra, autor AutorRutilio García Pereyra Seguidores: 9

Rogério Torres, tradutor TraduçãoRogério Torres Seguidores: 4

O design conta com uma estrutura teórico-metodológica que o faça capaz de ser considerado como disciplina? Analisemos as diferentes posições sobre o assunto. Gamoyal Arroyo (2012) sugere «a necessidade de aplicar uma metodologia científica ao Design».

«Geralmente os designers são relutantes em seguir métodos pois consideram que isso restringirá sua liberdade criativa. Mas a verdade é que segui-los garante melhores resultados, pois disponibilizam aos designers informações que os auxiliam a tomar melhores decisões, sem dar espaço à improvisação».

Gamoyal1

Gamoyal justifica o uso de técnicas de investigação por designers através dos seguintes argumentos:

  • Ajudam a conhecer bem o usuário ou o público-alvo de um determinado produto.

  • Sustentam e justificam as decisões tomadas pelo designer, ou seja, introduzem rigor.

  • Minimizam o risco de que se cometa erros ou tire-se conclusões precipitadas.

  • Podem revelar situações de uso ou tipos de usuários inicialmente não previstos.

  • Permitem testar o projeto antes da execução.2

Por outro lado, Herrera Batista (2010) sugere que: «O design como disciplina acadêmica é relativamente jovem. Neste sentido, seu fortalecimento como área de conhecimento e pesquisa encontra-se em processo de consolidação. Hoje, frequentemente, o designer é considerado uma pessoa prática, que desenvolve soluções criativas para problemas e necessidades específicos, mas não é considerado um investigador capaz de gerar conhecimento científico».3

Sheila Pointis (2009) afirma que: «Uma das causas da falta de teoria no design gráfico é que ele tem a característica de desenvolver carreiras criativas, onde a intuição tem um papel muito importante. Porém, é preciso levar em conta que os projetos de design seguem uma lógica estrutural, que se evidencia na resolução de problemas do mesmo tipo. Ao iniciar um novo projeto, o designer segue uma lógica conceitual que logo se traduz graficamente num produto final».4

A ausência de uma estrutura teórico-metodológica no design é o argumento daqueles que não o consideram uma disciplina. Norberto Chaves defende que «o design, como tal, não constitui um campo objetual, não é um gênero cultural, mas sim, uma fase da produção material».5

Toledano e Rogel (2012) afirmam que «o design tem se posicionado como uma disciplina projetual que não desenvolve somente objetos, espaços ou comunicações, mas uma forma de contextualizar, interpretar […] que tem a capacidade de desenvolver o conhecimento através de sua análise e prática».6 Chaves diz que «o design apenas seleciona e combina elementos existentes fora de sua prática» e enuncia que o designer deve buscar no contexto social, nos códigos vigentes entre técnicos, nas matérias-primas e nos comportamentos, tais elementos, e que deve incorporá-los já que sua «disciplina» não os provê.

Rodríguez Álvarez (2012), que cita Rodríguez Morales (2004), afirma que «devemos fazer um esforço para desenvolver uma teoria sólida do design, pois esta é um pré-requisito para formar uma disciplina». Por outro lado, Gamonal Arroyo (2012) ao manifestar a necessidade que o design tem de uma metodologia científica, destaca que «os projetos de Design são cada vez mais complexos, o que torna necessário o uso de uma metodologia para confrontar seus processos e tentar fazer com que os resultados se aproximem o máximo possível dos objetivos propostos».7

Acadêmicos das ciências humanas e sociais que realizam investigações em torno do design e que estudam a antropologia cultural e o artesanato indígena no México, conseguiram propor um novo discurso entre o processo criativo e os princípios do design. Eles conseguiram expor o processo criativo da elaboração artesanal abrangendo a forma, cor, harmonia e contraste, através de intervenções feitas em ferramentas metodológicas, para gerar um novo discurso que combina os princípios do design com a antropologia; ou seja, o método etnográfico. A esse respeito, Gamonal Arroyo disse que «Se trata de um método qualitativo vindo da Antropologia e que permite ao designer compreender o comportamento do usuário. Baseado na observação da interação entre pessoas do mesmo grupo e entorno, consegue-se obter dados e informações sobre o comportamento, as crenças e as preferências de usuários de um design. O designer converte-se num investigador etnográfico, introduzindo-se na vida cotidiana de um grupo de pessoas ao qual observa. Ele toma nota de tudo aquilo que realizam, depois analisa e obtém conclusões que o ajudarão a conceber o seu design».8

García e Ariza (2015) acrescentam em seu trabalho que «Os debates dentro da antropologia cultural, assim como as posições teóricas e conceituais (abordadas brevemente) sobre os objetos que são produtos do design, têm a intenção de explicar ou observar o artesanato Tarahumara como um objeto de design»; dizem ainda que «É importante situar a posição antropológica em que se encontra o artesanato, pois não se pode abordá-lo unicamente como um objeto comum, já que estaríamos desvinculando do grupo Tarahumara a criatividade, a estética e a funcionalidade implícita em seu artesanato focado no design. Pretende-se também explicar a ligação entre funcionalidade e estética, tão procurada pelos estudantes de design, unindo um objeto dotado de características estéticas representadas através da forma, cor, contraste e harmonia, à funcionalidade que poderia ser obtida pela adição de marcas gráficas e embalagens dentro de seu processo de comercialização».9

Ao tecer sua definição, Norberto Chaves esclarece que «exclui a produção artesanal, onde ambas as fases (a concepção e a fabricação) se fundem num único ato, mas, por outro lado, inclui praticamente toda forma e campo produtivo no qual o projeto seja pré-condição inequívoca da produção material, exigência universal na produção industrial».10

Conclusões

O diálogo que se desenvolve entre o design e os outros campos do conhecimento ocorre para que os designers usufruam da estrutura conceitual-teórica proveniente de outras disciplinas e para que possam desenvolvê-la como método de trabalho no processo de pesquisa em design. Norberto Chaves sugere que «esses «métodos» apenas refletem certos processos específicos utilizados em determinadas áreas temáticas do design: não existe um gráfico que possa corresponder a todas as práticas oficialmente caracterizadas como de design. Em outras palavras, o «método projetual em design» aplicado a um objeto indefinido, seguramente será uma construção imaginária».11

De acordo com o posicionamento de Chaves, onde ele diz que não há a necessidade de uma «caixa conceitual-teórica» que englobe o design, percebemos que a flexibilidade do design propiciou um diálogo permanente com outros conhecimentos como: a antropologia, a sociologia, a história, a filosofia, a educação etc. Esse tipo de diálogo mostra a versatilidade e a capacidade do design em associar-se a outras disciplinas, embora ainda se discuta a necessidade de uma estrutura conceitual-teórica para que se possa considerá-lo como disciplina.

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  1. Roberto Gamoyal Arroyo. «La disciplina del diseño desde la perspectiva de las ciencias sociales». Prisma Social, revista de Ciências Sociais, número 7, dezembro de 2011-maio de 2012, p. 357
  2. Gamoyal Arroyo, p. 358
  3. Herrera Batista, Miguel ángel. Investigación y diseño: reflexiones y consideraciones con respecto al estado de la investigación actual en diseño.
  4. Pontis, Sheila. Qué es y qué implica la investigación en diseño. FOROALFA.
  5. Chaves, Norberto. El diseño: disciplina vazia.
  6. Leonardo Andrés Moreno Toledano - Érika Rogel Villalba. La restropectiva del método del diseño, en Verónica Ariza Ampudia (coord.) La investigación en diseño, una visión desde los posgrados en México. Universidad Autónoma de Ciudad Juárez. México 2012, p. 104
  7. Gamoyal Arroyo, Roberto. La disciplina del diseño desde la perspectiva de las ciencias sociales. Prisma Social, revista de Ciências Sociais, número 7, dezembro de 2011-maio de 2012.
  8. Gamoyal Arroyo, Roberto. La disciplina del diseño desde la perspectiva de las ciencias sociales. Prisma Social, revista de Ciências Sociais, número 7, dezembro de 2011-maio de 2012.
  9. García Pereyra, Rutilio-Ariza Ampudia Verónica. Artesanía Tarahumara y su visibilidad como objeto de consumo: una experiencia desde la educación en el Diseño Gráfico. Oficina 24 Horas, Vol, 10, núm. 20, 2014.
  10. Chaves, Norberto. Diseño e ingeniería.
  11. Chaves, Norberto. Cuatro mitos en la cultura del diseño.
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