A qualidade existe e é inegociável

Para incentivar o entusiasmo do desenvolvimento de sua própria cultura gráfica e aspiração à qualidade.

Norberto Chaves, autor AutorNorberto Chaves Seguidores: 3906

Joaquin Presas, tradutor TraduçãoJoaquin Presas Seguidores: 18

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Para incentivar o entusiasmo do desenvolvimento de sua própria cultura gráfica e aspiração à qualidade.

Em uma aula sobre qualidade de marcas para alunos de design gráfico, eu mostrava exemplos bem extremados, bem contrastantes, de marcas de excelente e de péssima qualidade, a diferença era gritante, mesmo para um leigo no assunto. Ao mostrar a última marca (a pior em todos os sentidos), uma estudante me perguntou: Por que você diz que a marca é ruim? Minha perplexidade paralisou minha possibilidade de resposta por alguns momentos. Era como ter que explicar que é dia para uma pessoa que está tomando um banho de sol. Como se explicam as evidencias?

De qualquer forma, a pergunta da estudante foi, para mim, esclarecedora: no mundo em que vivemos hoje a perfeição não é clara para todos e, portanto, o horror também não é evidente. A origem desta dissolução das evidências culturais é fácil de detectar: ​​se trata do acelerado processo de “desculturação”, típico da sociedade de consumo. Não precisamos nos estender muito, a literatura sobre isso é vasta e também os sintomas são bem aparentes, basta sair na rua ou ligar a televisão.

Mas o interessante não é tanto para analisar este processo e suas reduções. E sim, a redução da reduções: o "tudo é relativo". Parece que se vale tudo e que o que alguns "dogmáticos" consideram "inculto" é, em realidade, um produto de "uma outra cultura" ... fazer o que amigos! Hipóteses como esta abriram caminho para todo tipos de desastres.

Com esta introdução, vamos passar agora para o nosso campo, o gráfico. Para isso, vamos começar a partir de um fato inegável: o gráfico é uma área da cultura, como a arquitetura, gastronomia e esporte. E não é apenas uma área da cultura, indo além do design gráfico, é uma das primeiras áreas a se desenvolver na humanidade. Lembre-se das cavernas, estamos desenhando há mais de 15 mil anos.

Em todos os campos da cultura existem códigos que regulam sua reprodução e o seu disfrute. Há boas bandas de rock, e bandas de rock péssimas, e no meio as regulares. Roqueiros autênticos, aqueles que sabem de rock não costumam errar e só vão a shows que valem a pena. Aqueles que conhecem futebol sabem apreciar uma boa jogada e sempre tem uma lembrança para a mãe do atacante que a frustrou. A torcida sabe, e não perdoa.

Bem, o mesmo vale para o gráfico. Uma pessoa com cultura gráfica sabe diferenciar um bom ilustrador de um ruim. É claro que existem situações em que o julgamento é controverso, e as unanimidades são raras. Mas esses casos são a exceção que confirma a regra. É uma mentira que tudo é relativo. Os valores são relativos apenas a quem os não tem. Em outras palavras: o alardeado "tudo é relativo" nada mais é do que o álibi para os iletrados.

Mas, contra o oportunismo do relativista que suspende sine die o julgamento, a cultura exibe esmagadoramente suas certezas: um ​​património irrefutável de peças maravilhosas e outro, resultado da ignorância ou mediocridade. Assim como existe cultura, existe também barbárie. Distinguir um do outro não é uma questão de opinião, e sim de conhecimento.

A descrição acima poderia ser interpretado como um pedido de elitismo. Contra esse perigo que eu me lembro de uma escrita acima: "A torcida sabe, e não perdoa" Se trata de “saber”. E o conhecimento é distribuído entre os setores sociais de acordo com suas afinidades: uns sabem de rock, outros de futebol, outros de gráfico. Praticamente ninguém sabe tudo, isso é normal e até diria que saudável.

E o que isto tudo tem a ver com design? Bem, tudo. Quando um cliente usa um designer gráfico é porque ele não é treinado para satisfazer adequadamente uma necessidade de comunicação. Ele sabe que não sabe e recorre alguém, que como a torcida, sabe do seu. E dentro desse conhecimento está saber detectar a qualidade (de uma fonte, uma paleta de cores, de uma fotografia, uma ilustração ...). E, mais ainda, saber produzir essa qualidade.

E entre todas suas características está fornecer materiais gráficos de altíssima qualidade, pois este compromisso é o princípio fundamental do profissionalismo (em qualquer profissão). Seja qual for o tema da peça, o público-alvo ou a linguagem, a peça deve ser excelente: a qualidade é estratégica e, portanto, indispensável. E é também, o motivo pela qual se usa um designer gráfico em vez de ir diretamente para a Indústria Gráfica.

Quando temos dúvidas de nossa apreciação da qualidade, um padrão de conduta correto seria não refugiar-se no relativismo, e sim questionar a nossa capacidade de avaliação. Não duvide da Cultura, mas sim da que você possui. E daí, colocar mãos à obra na tarefa de incorporar ela... que nunca acaba.

Nas opiniões enviadas ao ForoAlfa sobre temas estritamente técnicos (por exemplo, a qualidade de uma nova marca), predominam diferenças marcantes, e não no tom, o que é normal, mas no sinal, positivo e negativo, da avaliação.

Na avaliação da qualidade, é compreensível que observem diferenças em grau, oriundas do diferente nível de exigência opinativo. Mas, tratando-se de membros de uma mesma profissão, é inconcebível que o mesmo produto gráfico seja considerado por eles como de alta e baixa qualidade: um médico acredita que o paciente é saudável e seu colega diz que é morto.

A crise cultural, já mencionada, parece estar afetando escolas, pois uma parte importante dos seus diplomados saem com disciplinas centrais pendentes.

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