O design é importante?
Em 1997 Steve Jobs volta ao cargo de CEO da Apple, e quando indagado «o que você faria para salvar a Apple». Respondeu: «Design».
AutorHeleno Almeida Seguidores: 17
EdiçãoThales Aquino Seguidores: 31
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«Design não é apenas o que parece e o que se sente. Design é como funciona».
Em 1997, Michael Dell, o todo-poderoso da DELL, era o homem que mais fabricava computadores no mundo. Em meio a um evento de negócios/tecnologia foi indagado «O que você faria para salvar a Apple?». Ele respondeu: «Eu encerrava o negócio e devolvia o dinheiro aos acionistas». Ainda naquele mesmo ano, Steve Jobs voltava ao cargo de CEO da Apple, e quando indagado com a mesma pergunta, respondeu: «Design».1
Dez anos após esses dois fatos, a Apple Computadores é a empresa mais valiosa do setor de informática no mundo, ultrapassando a própria DELL no ranking de fabricantes com maior atividade rentável do setor. Michael Dell teve de repensar as próprias palavras, e a imprensa especializada assistia, de forma cética, nos anos a seguir, o lançamento dois produtos inovadores: o iPhone (2007) e o iPad (2010). Três anos após seu lançamento, o iPhone toma o mercado de usuários corporativos da então gigante canadense RIM. Surpresa? Nenhuma, do ponto de vista de Jobs.2
Hoje observamos muitas empresas focadas em Design e empresas focadas em Engenharia. A Motorola nos anos 2000 lançou dois modelos de relativo sucesso: o StarTek e o RARZ V3. Ambos, produtos com uma excelente engenharia, mas com design modesto3. Nenhum fabricante imaginaria que a Apple, com seu iPhone, iria mudar o rumo do arquétipo dos celulares «smartphones». Todos os grandes fabricantes olhavam o iPhone como algo para Nerds, ou um produto que não ameaçaria sua cadeia de vendas em larga escala. No entanto, por seu design, interação e tecnologias embarcadas (multi-touch, iPod, Wi-Fi, Wireless…) se mostrou uma grande e inesperada inovação que atraiu milhões de consumidores, mudando a telefonia móvel, sepultando de vez a tecnologia WAP e influenciando o design das futuras gerações de smarthphones de diversos fabricantes.4
É quase um mantra na internet, nos livros e nos seminários de design industrial citar a Apple como exemplo de empresas com design em seu D.N.A. Todo o perfeccionismo de Jobs, a elegância nos designs de Ive e o grande time de pesquisadores e engenheiros, construíram a imagem de empresa inovadora, apoiada em produtos com Design.
Também é notório percebermos que poucos ou raros produtos tidos como «good design» tem surgido. Até então, o que vemos são aparelhos que buscam similaridade com os produtos Apple. O iPhone tem o seu design «referenciado» por fabricantes como a Samsung, Nokia, RIM e HTC. A própria Dell, Sony e Acer tem lançado produtos muito parecidos ao iMac. A ideia do computador-monitor sem CPU, é um novo arquétipo dos PCs, fugindo da enfadonha caixa bege, agora de diversas cores e formatos, mas ainda continuam sendo caixas. Mais uma vez, Jobs estava certo.5
O uso do design na cultura estratégica das empresas mudou o cenário da produção de produtos. Atualmente o design está muito mais ligado à gestão que apenas ao contexto superficial de um produto ou marca nas empresas. Novos produtos não são apenas «produtos isolados», mas se comunicam e criam novas experiências com outros produtos-acessórios (suportes, capas de proteção, entre outros). Negócios, oportunidades e ideias surgiram a partir disso, e continuam a surgir.6
Um bom exemplo de produto que originou essa mudança é o próprio iPhone —milhares de gadgets foram criados para ampliar a experiência de uso—. Caixas de som, suportes, bases sonoras, adaptadores de monitor, aplicativos (APPs) e games que o tornaram um gadget de convergência para entretenimento e produtividade, agregando sempre novas tecnologias (3G, acelerômetro, multi-tasking, retina display e novíssima 4G)7.
Um bom produto não deve ser apenas engenharia, ou seja, potente e robusto —mas interessante, fácil de usar, rápido ao funcionar, e seguir a «necessidade» para qual foi criado—. A filosofia lógica por trás de todos os produtos Apple. O design não é apenas estético, mas funcional.8
O design é importante, quando aliado a tecnologias honestas e a empresas que entendem que um bom produto pode não precisa ser hi-tech ao extremo, mas que o seu design tem que cumprir sua função, com o melhor custo-benefício possível. Empresas inovadoras tendem naturalmente a superar as empresas tradicionalistas (focadas em engenharia, processo), denotando seu posicionamento de mercado, apresentando produtos com um contínuo processo de inovação e melhorias.9
Apple x Dell, lembram? Venceu o design, a inovação. Jobs estava certo ao investir em design. 18 anos após da resposta de Jobs, a Apple vale US$723 bilhões10. Há estudos que apontam seu valor atual estaria na faixa de US$ 1 trilhão.
E o design, não é importante?
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- BUNNET, Robert & EMERY, Stuart. Gestão Estratégica do Design: como um ótimo design fará as pessoas amarem sua empresa. São Paulo: M. Brooks, 2010.
- TODARO, Marcelo. iPhone é o que mais satisfaz usuários corporativos, diz pesquisa (2008).
- LYNN, Gary S & REILLY, Richard R. Produtos Arrasadores: 5 segredos para desenvolver produtos inovadores. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
- Revista MacMais. Os celulares Antes e Depois do iPhone (2012).
- MARQUES, Eduardo. As cópias continuam: HP lança computador tudo-em-um muito parecido com o iMac. MacMagazine (2012).
- MARQUES, Eduardo. Apple quer integrar seus mapas e a Siri em carros e estaria propondo um redesenho do console automotivo. MacMagazine. (2013).
- LANDIM, Wilkerson. Executivo da Samsung assume que ecossistema da Apple é melhor. Tecmundo (2012).
- MARQUES, Eduardo. Vídeo: site «explica» a filosofia de design da Apple.MacMagazine (2012).
- MARINS, Antomar. O Processo de melhoria contínua. Administradores. São Paulo (2009).
- Economia. Apple vale mais que a soma de todas as empresas na Bovespa (2015).
- DIAS, Guilherme. A História da Motorola: ascenção e queda. Techmundo (2014).
- Mundo das Marcas. Motorola (2006).
- Forúm iPhoneInsiders. Conheça a trajetória de Steve Jobs. Brasil (2011).
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