Minha primeira vez como estudante de Design

A experiência e a trajetoria são resultado do esforço e do sacrificio.

Adrián Pierini, autor AutorAdrián Pierini Seguidores: 463

Marcio Dupont, tradutor TraduçãoMarcio Dupont Seguidores: 70

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Depois de ter ingressado, a primeira vez que pisei na Universidade de Buenos Aires usava terno. Sim, eu pensei que seria como estar em Harvard... o quê? Afinal, eu era um cinéfilo (Scent of a Woman, por exemplo) e nos filmes, os universitários sempre estavam vestidos desse jeito; de fato, nesses filmes as grandes instituições de ensino estavam brigando pelos melhores estudantes com a promessa de um ensino completo e de um sucesso futuro praticamente garantido. Eu tinha essa fantasia, eu imaginava que as universidades eram literalmente «grandes catedrais do saber», com códigos de conduta irrepreensíveis e estudantes agrupados em clãs chamados Beta, Gama ou como fosse. Sim, eu sei que era estúpido, mas eu quero deixar claro que minha visão não vinha de critérios superficiais, mas erroneamente associava estes rituais a um ensino altamente exigente e profissional. Um pensamento exagerado? Talvez. Um trauma de infância que eu não fui capaz de superar? Talvez.

De qualquer forma, lá estava eu, impecavelmente vestido, entrando pela primeira vez na minha preciosa faculdade, que estava deslumbrante, enorme... e inacabada. O edifício foi construído pela metade o que o tornava ainda mais perturbador. Os grandes jardins ingleses dos meus sonhos tornaram-se montanhas empilhadas de terra, prontas para serem usadas como material de enchimento; a recepção elegante era improvisada com barracas, a grande biblioteca de enormes lustres e vitrais deslumbrantes foi substituída por uma sala de tamanho médio com uma série de prateleiras com pouca literatura e desatualizada. Um duro golpe, sem dúvida, mas necessário de verdade, a Universidade de aqueles anos já estava me dando sua primeira lição: a vida não é como nos filmes!
Não se engane, eu acabei amando minha Universidade. Suas falhas e defeitos eram, afinal, a manifestação mais clara de um país devastado por anos de ditadura e repressão. Pretender ao final dos anos 80 que a Universidade de Buenos Aires sairia ilesa desses infelizes acontecimentos, seria um ato de ingenuidade superior às minhas fantasias de estudante e cinéfilo. Burocrático, é verdade. Equipamento deficiente, com certeza. Descuidada às vezes, sem dúvida. Mas apoiada por uma equipe de professores incríveis e apaixonados, cujo principal objetivo era semear na cara e na coragem, a semente dessa nova profissão chamada de Design Gráfico.

A UBA trouxe como base o que eu chamo de «a essência da verdadeira capacitação» ou seja, a base para «aprender a aprender».

Eu comecei a falar sobre a minha decepção inicial, mas algo ainda mais forte do que os meus sentimentos sobre o triste panorama cerimonial e estrutural, foi a reação dos meus pais e conhecidos contra a minha decisão de seguir uma carreira bastante «dispensável», «de baixa demanda» e no imaginário da época como algo mais perto da mulher que do homem. Na época, estudar Design Gráfico era um suicídio (ou vagabundagem). Era realmente uma vergonha dizer que essa era a sua vocação. O curso de Design Gráfico era o mais baixo no ranking de cursos com futuro. Ainda assim, milhares de jovens se inscreveram nele, poucos sabiam o que era, mas se inscreveram igualmente. Todos nós adoramos pintar ou desenhar, sem saber o que fazer com esse talento, mas pelo nome do curso, apenas por incluir a palavra «design», isso encorajou o nosso sonho de usar esse conhecimento. Estes argumentos sem nenhum fundamento eram fantásticos!

Ainda me lembro do rosto de minha futura sogra, quando eu queria explicar o excelente destino de sua filha por ter escolhido um candidato criativo e inovador como eu. Um verdadeiro campeão da justiça gráfica proposto a revolucionar formas, letras e cores, para um mundo ávido por soluções gráficas revolucionárias. Ela quis morrer! Lembro-me também da raiva e a frustração dos meus pais quando eu lhes disse que estava deixando a carreira de arquitetura e mergulhando no mundo maravilhoso do intuitivo «Nós tivemos um bebê esquisito! Você está arruinando o seu futuro! Vá trabalhar!» Não era fácil, não foi fácil.

À distância, sua reação foi compreensível. Naquela época ninguém queria mudar as coisas, as embalagens e envases eram feios mas serviam, nas marcas faltava equilíbrio, poder de persuasão e outros atributos, mas as pessoas entendiam. Não havia necessidade de estruturas visuais, semiótica,mercado, não importa se era Helvetica ou Garamond. O difícil não era que o mundo funcionasse assim (talvez fosse até melhor), mas os designers da nossa geração foram ganhando espaço às custas de muita frustração, perseverança, auto-confiança, a esperança e a adaptação profissional à dura realidade: o projeto nunca procurava transmitir nosso amor à estética, mas apenas a mensagem simples de quem nos contratava.
Para fechar, gostaria deixar de lado o engraçado e seriamente expressar que o Design Gráfico é uma profissão gratificante, mas perigosa para aqueles que não se comprometem para exercer-la com absoluta dedicação. O terno a que me referi no início da história, seria bom entendê-lo como um símbolo do jovem estudante universitário (ou jovem profissional, por que não?). Há muitas maneiras de ser formal, e a roupa é apenas uma forma de representação, o empenho e esforço sincero para superar as dificuldades da vida profissional «vestem» de maneira intangível aquele que as adota.
A «primeira vez» em qualquer situação é o mais difícil, a «primeira vez» erramos, a «primeira vez» com medo, a «primeira vez» nos frustramos. O mais importante ainda, é sair de cabeça levantada e levar a sério as mensagens ocultas que «a primeira vez» contém. Saber decodificar essas mensagens será a diferença entre o nosso sucesso e o nosso fracasso.

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