Meta-inovação para fomentar a indústria têxtil boliviana

A indústria têxtil boliviana não aproveita o potencial já instalado por um déficit de gerenciamiento. Propomos a criação de incubadoras sociais para reduzir essa assimetria

Ana Bossler, autor AutorAna Bossler Seguidores: 71

Priscila Lima Pereira, tradutor TraduçãoPriscila Lima Pereira Seguidores: 18

Em co-autoria com Débora Rodrigues e Priscila Pereira.

A indústria têxtil é uma das mais importantes manufaturas na Bolívia. Ainda que seu desenvolvimento tenha  ocorrido tardiamente — começa na década de 20 — e que haja enfrentado desafios por falhas estruturais com a abertura comercial na década de 80, atualmente produz 13% do total de exportações do país (Grossmann, 2009). Esta indústria tem um importante potencial de crescimento por causa d0 aumento internacional da demanda de produtos ecologicamente sustentáveis, como é o caso da tradicional tecelagem dos artesãos e do alto valor agregado das lãs de camelídeos (lhama e alpaca).

Bolívia outorgou inúmeros benefícios comerciais — conta  com 100% de preferências para exportar para a Argentina, México e Brasil1 — na forma de tratamento especial e diferenciado, seja por meio de acordos com organismos multilaterais ou em acordos específicos. No entanto, a forma de estruturação da indústria têxtil boliviana, composta em sua maioria por pequenas e médias empresas, torna difícil o aproveitamento dessas vantagens comerciais.

Sem dúvida, Bolivia conta com claras vantagens competitivas na indústria têxtil, seja por suas matérias primas (pelos finos de alpaca e lhama), seja por sua mão de obra muito qualificada, com pouco índice de rotação e fácil treinamento  e capacitação nos centros de produção já instalados (Grossmann, 2009). Para que o país possa aproveitar o aumento da demanda internacional por este tipo de produtos e para superar problemas como o alto custo institucional do país e a falta de conhecimento de comércio exterior por parte das indústrias têxteis, propomos um sistema de incubadoras sociais2 que fomente o empreendedorismo a partir da inovação, com especial foco no gerenciamento.

No atual cenário global de competitividade será fundamental dar preeminência a que a indústria reduza seus custos transacionais e produza uma sorte de spillover (transbordamento) de conhecimento. Em Bolívia inovação e empreendedorismo resultarão essenciais para ancorar o crescimento do país, que hoje ocupa a posição 100 no ranking IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e que tem o 60% de sua população vivendo em absoluta pobreza (Banco Mundial, 2013). Entretanto, sua indústria hoje vê suas oportunidades restritas pela falta de recursos de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, como resultado das atuais políticas públicas, que priorizaram necessidades mais urgentes.

Bolívia ocupa o 180º lugar no ranking Doing Business do Banco Mundial em 2013, que é o resultado do fato de que sua própria estrutura não fomenta o crescimento. Considerando a relação entre instituições e crescimento econômico inclusivo (Acemogluet al, 2010), propomos implantar um sistema de incubadoras sociais a partir dos sistemas de meta-inovação,3 que não exija capital intensivo, com um enfoque centrado no gerenciamento em vez de alta tecnologia. Este tipo de sistemas servirá a sua vez como ferramenta de inclusão social, dado que pode ser reproduzido com facilidade e requer de muito pouca tecnologia.

O verdadeiro obstáculo no desenvolvimento da indústria têxtil boliviana se encontra na sua baixa capacidade de gestão da comercialização. O problema real é como reduzir as assimetrias de informação, especialmente em relação ao gerenciamento do comércio exterior. Se bem o Banco de Fomento da Bolívia já ampliou as linhas de crédito no setor para a modernização de maquinarias, o país deixou descoberta as capacidades de comercialização e empreendedorismo da indústria.4

Outros obstáculos são as barreiras não-tarifárias e a incapacidade da indústria de ajustar-se aos estândares de produção dos países destino, muitas vezes pelo desconhecimento das condições do tratamento especial e diferenciado já outorgadas ao país (Câmara Nacional de Exportadores da Bolívia, 2012). A função das incubadoras seria a integração das etapas de desenvolvimento e comercialização, para reduzir os custos de ingresso aos mercados internacionais. Considerando que a indústria têxtil boliviana tem uma capacidade ociosa da ordem de 40% (Grossmann, 2009), as incubadoras sociais poderiam reduzir as falhas de mercado, acelerando a inovação e fomentando  o empreendedorismo. Dado que nos estamos referindo em sua maioria a pequenas e médias empresas, o incentivo poderia se tornar uma ferramenta para a ascensão social. 

Ênfase na construção de capacidades de comercialização resultaria uma estratégia atraente para o aproveitamento das oportunidades que hoje tem a indústria têxtil boliviana. Implantar um sistema de incubadoras sociais na Bolívia não apenas ajudaria ao desenvolvimento econômico sustentável senão que, ao mesmo tempo, somaria uma ferramenta de inclusão social: um modelo de fácil reprodução, dada as condições atuais.

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  1. Na Argentina e Brasil ainda não foram liberadas totalmente as barreiras não-tarifárias.
  2. As incubadoras sociais tem como objetivo o fortalecimento de comunidades, através da capacitação dos empreendedores e a geração de tecnologias sociais.
  3. Os sistemas de meta-inovação focalizam no gerenciamento em vez do desenvolvimento de produtos. O sistema surge no Brasil, um país no qual as incubadoras sociais assumiram uma organização horizontal entre estado, empresa e universidade, para alinhar objetivos sociais a partir da inovação. A principal trava para estabelecer empresas no Brasil eram os custos burocráticos e não a infraestrutura, como em outros países com tradição em incubadoras. Essa dinâmica envolve múltiplas iniciativas tais como bottom-up, top-down e lateral, emergindo do abandono dos projetos de larga escala da época militar para as incubadoras sociais dos 2000 (Etkowitz, 2005).
  4. 75,8% dos bolivianos acreditam que tem a capacidade de empreender e 54,5% dizem ter vontade, recursos e oportunidades de empreender. Fonte: Global Entrepreneurship Monitor, 2010.

Bibliografía

  • Acemoglu et al. Why Nation Fails. 2010
  • ALADI. Oportunidades comerciales para el Sector Textil y Confecciones de Bolivia, en los mercados de Argentina, Brasil y México. Enero de 2007.
  • Cámara Boliviana de Exportadores.
  • Etzkowitz, H et al. (2005). Towards «meta-innovation» in Brazil: The evolution of the incubator and the emergence of a triple helix. In: Research Policy, vol. 34 Issue 4.
  • Global Entrepreneurship Monitor (2010). Entrepreneurship Index.
  • Grossmann, Benjamin. Estudio del Sector Textil en Bolivia. Enero de 2009.
  • World Bank. Doing Business Report, 2013.
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