Design velho numa sociedade nova
Num cenário em que o design atrai cada vez mais o interesse e os designers estão sendo mais solicitados, a pergunta que se faz é: eles estão preparados para atender essa demanda?
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Nunca se falou tanto sobre design como agora. O Design virou a palavra da vez, agora faz parte do discurso de administradores, políticos, economistas, pregando a importância do papel do design na inovação, no desenvolvimento, na sustentabilidade, e assim por diante.
Nesse cenário em que o design atrai cada vez mais o interesse, e os designers estão sendo mais solicitados, a pergunta que se faz é: eles estão preparados para atender essas demandas? O tipo de designer que está sendo formado hoje nas universidades está à altura dos desafios que surgem à sua frente? A resposta é: não. Por que?
O modelo de designers que estamos formando hoje é velho e ultrapassado, e não responde às necessidades que se impõem atualmente. Esse modelo é resultado de algumas abordagens de ensino adotadas pelas faculdades de design. Alguns cursos focam demais no designer prático (formalista), deixando a teoria de lado por achar que ela é perda de tempo. Ou se concentram no design teórico, em pesquisas acadêmicas, deixando a prática de lado, imaginando que a teoria por si só vai dar conta dos detalhes práticos.
Outros cursos focam no design politizado, imaginando que o papel do designer é salvar o mundo e que somos o centro de tudo. O que nós fazemos tem impacto global e cabe a nós defender a humanidade do mal e da devastação da natureza. Já há outras faculdades que não querem salvar o mundo, mas querem salvar o bolso e o emprego dos designers, atendendo às exigências de um tal de «mercado» (afinal isso é bom e ajuda o país). Por último, quando não estão concentradas em salvar o mundo ou destruir o mundo, alguns cursos deixam de lado essa discussão e focam no modo de fazer as coisas, pensando que a tecnologia é a solução dos problemas e atende todas as necessidades.
Qual desses modelos é o melhor? Que tipo de designers precisamos formar para responder aos desafios que surgem na sociedade, principalmente agora que o design está chamando cada vez mais a atenção?
Na verdade aí está o problema: não temos que escolher um modelo ou outro. É justamente essa atitude que desequilibra a formação dos designers. Todos esses modelos que eu citei tem pontos fracos e pontos fortes, e adotar apenas um deles não dá conta das necessidades de formação dos designers.
O que nós precisamos não é designers teóricos, designers práticos, designers politizados, designers consumistas ou designers tecnológicos. Precisamos é de designers de valor. Eles devem ser criativos, construtivos, de visão independente, que não sejam escravos do sistema capitalista, nem heróis da humanidade com suas ideias pró-sustentabilidade, nem gênios tecnológicos.
Precisamos de profissionais capazes de desempenhar seu trabalho com conhecimento, inovação, sensibilidade e consciência. O papel das escolas de design é fomentar essas qualidades nos alunos e não apenas atender as normas de um sistema consumista que se preocupa só com lucros a curto prazo. As escolas devem satisfação a toda a sociedade, e não apenas às empresas que empregam designers.
Os estudantes de design não deveriam apenas fazer projetos, com coleta de dados, pesquisas e relatórios, para resolver um problema prático ou teórico. Deveriam também fazer uma reflexão sobre o problema, em termos dos seus princípios e valores implícitos, e do significado disso para o design e para a sociedade.
O objetivo dos conteúdos ensinados nas faculdades deveria ser o de oferecer uma visão clara sobre a atuação do designer, ajudando-o a situar seu trabalho nos devidos contextos intelectuais, conceituais e históricos. A consciência sobre os valores, tanto explícitos, quanto implícitos é o elemento essencial com o qual as matérias da faculdade podem contribuir para o ensino do design. O designer deve pensar no impacto positivo do design para garantir a sustentabilidade ambiental, mas também deve refletir sobre o papel negativo do design como estímulo do consumo.
Devemos evitar professores de faculdades que nunca fizeram design na vida, que não tem a menor noção de como os designers pensam e criam, e que encaram a prática como nada mais do que uma demonstração de teorias. Mas também devemos evitar professores que não tem nenhum respeito pelo estudo acadêmico, que acham que o design não passa de uma atividade empírica, que se aprende fazendo.
As faculdades devem formar designers que sejam conscientes sobre o impacto da prosperidade, do consumismo e do estilo de vida como forças sociais e culturais num sentido mais amplo. Essa compreensão torna o aluno menos propenso a gerar soluções aleatórias com base em suposições erradas ou incompletas, e esteja melhor posicionado para gerar soluções informadas, abrangentes e completas com base em uma compreensão profunda dos valores que dão origem ao projeto de design.
Longe de ser um mero sonhador, um teórico distante ou um técnico sem imaginação, o designer valorizado é, em resumo:
- Aquele que possui uma compreensão crítica dos valores que fundamentam o design.
- É corajoso, disposto a defender ideais sociais e culturais mais elevados do que o consumo a curto prazo que leva à destruição do meio-ambiente.
- Enxerga no design o potencial para contribuir para uma qualidade de vida melhor e mais sustentável.
- Tem consciência do seu próprio valor.
Portanto, nota-se a necessidade de se desenvolver um modelo para um novo tipo de designer, munido de uma compreensão mais aprofundada e bem mais complexa da questão de valores, e da sua responsabilidade com o mercado, com a sociedade e com o meio-ambiente.
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Esse texto é baseado no artigo «O Designer Valorizado», do autor Nigel Whiteley.
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