Corpo Tipográfico

Depois de assistir a palestra do designer mexicano Miguel Guerrero no Encuentro Latinoamericano de Diseño 2011 (em Palermo) e tomar conhecimento das dificuldades que o camarada enfrentava para realizar seu trabalho, decidi mudar minha forma de ensinar ao voltar para casa. Eu deveria ir além do que estava fazendo nas disciplinas de História e Desenho Tipográfico. Logo, propus-me a ministrar outras duas novas disciplinas: Tipografia Básica e Tipografia Experimental, ambas norteadas por uma abordagem mais leve e interativa. Dessa forma, foi possível reunir, durante o primeiro semestre de 2011, três turmas do Curso de Graduação em Design do Campus de Caruaru da Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, em torno de um mesmo propósito: produzir um livro sobre tipografia.

Projeto gráfico, diagramação e finalização, bem como as negociações junto às gráficas e à editora, ficaram a cargo dos alunos das duas turmas de Tipografia Básica. Já a produção de conteúdo correu por conta da turma de Tipografia Experimental. Dentre os vários trabalhos desenvolvidos nessa última disciplina, selecionei os que trataram das relações entre a tipografia e o corpo humano para compor a obra. Incumbi grupos de até cinco alunos para produzir, dirigir e executar dois ensaios fotográficos: um capaz de apresentar possibilidades plásticas e poéticas resultantes da interação entre as representações de formas tipográficas e o corpo, e outro capaz de fazer o mesmo com a representação de formas tipográficas expressas no corpo.

Ao todo quatorze ensaios fotográficos foram selecionados para compor o livro Corpo Tipográfico, seis ocuparam-se de representações tipográficas no corpo humano e oito de representações tipográficas com o corpo humano.

Os ensaios que trabalharam as representações tipográficas no corpo humano foram regidos por um único tema, fantasia. As interpretações deste tema foram as mais diversas possíveis, indo desde a fantasia carnavalesca a fantasia sexual. Já os ensaios que trabalharam as representações tipográficas com o corpo humano não se submeteram a tema algum, apenas comprometeram-se com as formas das letras do alfabeto e com a plasticidade de suas representações gráficas.

A complexidade da proposta constituiu um grande desafio. Mas, o empenho e perseverança de todos os envolvidos foi fundamental para o sucesso do projeto. O resultado obtido superou as expectativas da editora, a Serifa Fina, e de muitos designers, o que nos tem deixado bastante orgulhosos do trabalho desenvolvido pelos professores e alunos envolvidos na produção deste livro. Acreditamos que conseguimos organizar uma obra bilíngue – português e espanhol – capaz de retratar bem o momento vivido pela tipografia praticada em Caruaru, cidade de 250.000 habitantes do interior do estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil.

Livro na mão, vamos iniciar uma série de viagens à várias cidades da América Latina para fazer chegar ao maior número de colegas possível nosso trabalho. Sairemos em busca de ampliar os horizontes da construção coletiva do design que estamos experimentando adicionando novos temperos e colecionando novos sotaques.

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