Os concursos de design

Os concursos não são a causa dos principais problemas estruturais da profissão de design, mas são um excelente reflexo deles.

Jorge Illich Carpinteyro, autor AutorJorge Illich Carpinteyro Seguidores: 4

Thales Aquino, tradutor TraduçãoThales Aquino Seguidores: 31

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Os concursos de design estenderam-se a diversas áreas praticas do exercício da profissão. Ainda que não sejam a origem dos principais problemas estruturais do design, são um reflexo dos mesmos. Assim sendo, afetam profundamente a percepção que a sociedade (empresas, clientes, universidades etc.) tem da profissão, por refletirem aspectos fundamentais sem resolver, e que contribuem fortemente a uma desvalorização e descrédito de seus profissionais. Que problemas estruturais são esses?

  • Valor da formação. A existência de concursos direcionados a estudantes e professionais, desvaloriza a formação. Para quem lança um concurso a formação não importa, o que sim importa são as boas ideias; portanto, entende-se que a formação contribui pouco a construção de um bom designer, e que qualquer um pode fazer seu trabalho desde quando tenha «boas ideias».

  • Valor do processo. A maioria dos concursos de design avalia os componentes formais do produto e ignora os componentes funcionais (entendendo por funcional a relação do produto com o usuário e seu contexto, da matéria prima ao descarte). Quando se lança um concurso de design, na maioria dos casos, não só a informação proporcionada aos participantes omite aspectos importantes, como também se restringe a possibilidade de requerer dado adicional. Quando se propõem em solucionar algo sem considerar toda a informação necessária para isso, estes mesmos designers desvalorizam o papel que desempenham no processo de desenvolvimento do produto. E uma vez que aceitam tais condições, confirmam que o único que eles têm a oferecer são «boas ideias», que não necessitam muita informação e analise para trabalharem e que, portanto, o irrelevante papel do profissional no processo.

  • Valor do conhecimento. A maioria dos concursos de design avalia imagens (soluções formais). Este pode ser um dos pontos mais polêmicos, que talvez muitos designers assim não o consideram. Pessoalmente entendo o Design como um processo que gera conhecimento sobre um problema a ser resolvido, que permite identificar e avaliar, para tal, a melhor solução. Somente, se baseando na informação gerada (documentação do conhecimento), é possível gerar e avaliar a solução formal adequada. Questão essa que nunca considera a maioria dos concursos, e faz com que a sociedade julgue que projetar (ou designar) consiste em fazer desenhos, algo que qualquer pessoa poderia fazê-lo.

  • Valor do relacionamento. O tipo de relacionamento que se estabelece nos concursos não implica ao menos um vínculo laboral nem uma prestação de serviços eventual. Quando participam de concursos os designers admitem que não necessitam nenhum tipo de vínculo com as empresas as quais trabalham; que para conseguir um design não se exige contratar a ninguém, organizar um concurso é o suficiente.

  • Valor do respeito. Os concursos são uma falta de respeito da sociedade para com o Design, já que não submetem outros profissionais a condições mais injustas.

  • Valor do trabalho. Quando se avaliam as propostas para um concurso e se determina que um único trabalho serve entre mil, se cria na sociedade a ideia de que quase todos os profissionais não estão aptos para atuar, ou que o Design é questão de sorte.

Resumindo, os concursos são ruins e, a causa de muitos problemas de design? A causa, definitivamente, não o são, mas um reflexo da conduta de seus profissionais. É importante erradica-los, mas mais importante ainda é que todos compreendam por que se deveria fazê-lo, e de uma vez por todas solucionar os problemas estruturais que impedem o Design de assumir o papel que lhe caberia na sociedade. Atualmente há designers que entendem seu valor, mas falta muito ainda por conscientizar.

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