Do valor da informação ao valor do Design

A aparição do chamado Design Thinking está convertendo o Design em uma fonte de inovação.

Vicente Encarnación, autor AutorVicente Encarnación Seguidores: 16

Thales Aquino, tradutor TraduçãoThales Aquino Seguidores: 31

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Quando nasci, faz mais de 40 anos, a Cidade do México ainda estava longe de ser a megalópole que hoje nos absorve. Eu nasci e cresci quase no limite da civilização, em uns dos grandes conjuntos habitacionais que expressavam com orgulho a modernidade mexicana dos anos 60. À minha volta se inalava a inspiração da ordem e do progresso que a Revolução Mexicana parecia ter alcançado, e a promessa cumprida do benefício e convivência social na que coincidiam os governos do mundo civilizado. A atenção estava voltada às maneiras de construir e desenvolver para «modernizar», para «globalizar».

Contudo, a chamada modernidade para mim, com sua áurea de viagens espaciais e aventuras tecnológicas, estava muito longe da decepcionante realidade na qual eu vivia.

Nesse contexto, e enquanto pude, decidi me dedicar ao Design porque me dava as ferramentas para mudar aquela realidade, seja ela no papel ou em uma maquete.

Para mim o Design é uma profissão de inconformados, de perfeccionistas, de inventores. Do Design valorizo a visão do laboratório, a mística da oficina e o mérito na reinvenção dos negócios: a capacidade de definir bem um problema e buscar a fórmula adequada para solucioná-lo.

Ao longo dos 30 anos que nos antecedem e apesar da férrea resistência do sistema imperante, as coisas começaram a mudar: passamos de uma tecnologia lenta, burocrática, cara, especializada e controlada, a viver em um mundo hiper comunicado.

Trata-se das mudanças que estão modificando substancialmente o mundo no qual vivemos: multidões inteligentes, prosumers, redes sociais, energias alternativas e desenvolvimento sustentável, são realidades com as quais hoje todos estamos familiarizados.

O futuro não está por vir. O futuro é hoje. Uma realidade completamente diferente, com a que vivemos diariamente e que modela nossa conduta. Na última década experimentamos más mudanças que em quase toda a metade do século anterior.

Mudou o mundo, mas muitos seguem pensando no passado. A nova realidade exige capacidades, ferramentas e enfoques mentais mais rápidos e mais criativos: o pensamento que precisamos para o futuro é o chamado Design Thinking1.

Nossa acelerada realidade exige diminuir os tempos de adaptação e renovar o conhecimento e a informação útil na maior velocidade possível. Já não há espaço para o conhecimento enciclopédico com pretensões universais e permanentes. As profissões da próxima década ainda serão inventadas e o estudante que começa hoje a universidade terá que reaprender a maior parte dos seus conhecimentos úteis antes de terminar sua carreira.

O futuro desafia os negócios

O futuro que vivemos hoje consiste, em boa parte, em um amplo mercado com fronteiras permeáveis, que cresce e se integra exponencialmente. Hoje é precisamente a sutileza o que agrega valor. Para conseguir essa diferença sedutora é necessário conceber os negócios —sejam eles comerciais ou não— como novas artes, mais sensíveis.

A barreira ideológica acabou. Hoje podemos aceitar que todos somos, antes que cidadãos, consumidores. Descobrimos o enorme valor das nossas decisões, que podem fazer florescer grandes iniciativas o afundar na ignominia as melhores intenções.

Temos uma grande capacidade de eleição nas nossas mãos, mas ainda não somos todos designers.

No meu ponto de vista, a solução pede mais criatividade e mais imaginação. É a mistura de três ou quatro ingredientes-chaves, que liberam forças imparáveis: reinvenção.

A reinvenção surge quando várias pessoas, com a estranha capacidade de calçar os sapatos do outro, se reúnem em frente a uma situação ou um problema, com o coração suficientemente aberto para olhar a realidade em toda sua complexidade e gerar, a partir de pontos de vista múltiplos, soluções originais, arriscados e eficientes.

O Design, quando é bom design, se identifica precisamente como o anterior: observação inteligente.

Trata-se de gerar soluções ótimas em um mundo cada vez mais complexo. Por ser uma profissão, o Design se converteu em uma competência ou habilidade empresarial.

Não é exagerado dizer que surgiu a economia do Design, como sucessora da economia da informação, antes precedida pela economia dos serviços e a economia da manufatura. Estamos presenciando uma invasão do Design no mundo da administração de organizações humanas.

Bussiness by Design

O Design é uma forma de pensar que permite encontrar soluções, que outros não visualizaram, em produtor, serviços e procedimentos.

Pode-se aplicar a qualquer campo, tanto para solucionar problemas sociais, quanto para modificar hábitos culturais, desenvolver ações ambientalmente sustentáveis ou aumentar a produção de uma empresa. Utiliza-se para enfrentar problemas que o pensamento convencional não é capaz de resolver: problemas que exigem soluções interdisciplinares, flexíveis e inusitadas.

Porque o bom design é integrativo; determina, categoriza e define um problema interessante; analisa os modelos convencionais, ocupa a melhor das soluções parciais e configura uma terceira opção que, sendo congruente com o problema, oferece as vantagens perseguidas sem restrições prévias.

O Design Thinking está se convertendo em um motor importante de rendimento corporativo em todo o mundo; é uma revolução mental a qual seria muito pouco inteligente se atrasar.

No México chamamos esta tendência global «Business by Design», porém poderia ser chamada de qualquer outra forma. O que importa é o conceito que a sustenta: a aplicação da mente criativa dos designers à serviço de projetos de negócio e organizações.

O valor do «Business by Design» se alimenta do encontro de dois mundos antes separados e diferentes, quando não excludentes: o mundo do Design, por um lado, e o mundo dos administradores de empresas, pelo outro. Agora, ambos se encontram para uma gestão de inovação, mais bem sucedida, frente a uma realidade nova.

Os componentes do Design Thinking

Na minha experiência detectei que pensar (e resolver) como designer compete:

Observar

O primeiro a fazer para elaborar uma solução de Design é algo tão simples e, ao mesmo tempo, tão complexo como observar. Contemplar quase do mesmo modo Zen: prestar atenção aberta e concentrada, analítica e inteligentemente, ao assunto ou problema, para detectar seus elementos essenciais.

Nessa observação é fundamental categorizar e definir o problema, se perguntar a fundo qual é o desafio, já que a construção e formulação do enunciado abre ou limita a compreensão.

Observar é fascinante, porque tudo que importa já está, já existe na realidade; só que se encontra fora do lugar ou escondido à vista dos demais.

Imaginar

Outra constante no Design Thinking implica descartar as soluções óbvias e propor uma diversidade de novas rotas que geram cenários diferentes, empáticas com o usuário e com o contexto. Uma mesma realidade aparente é o detonante das soluções infinitas.

Não se trata só de criar coisas novas, senão de as reinventar. De certa forma todas as soluções preexistem no problema, mas necessitam de um ponto de vista muito particular para poder vê-las e as acomodar de maneira que as melhorem. O exercício da imaginação é o de intuir, ver e perceber a possibilidade que as coisas tem. É melhor saber abraçar as soluções adequadas do que forçar os resultados.

Prototipar

Uma característica do trabalho de Design é provar as soluções em distintas etapas de conceptualização. Nós designers amamos os protótipos: existe uma relação de escala que faz que o jogo da mente atue na realidade.

Selecionar

As vezes um problema complexo oferece tantas opções de resposta que tende a paralisar as decisões. Uma mente de Design pode distinguir o essencial do supérfluo e encontrar uma mistura potente.

Articular

Pensar a partir do Design implica na habilidade de sintetizar e apresentar eloquentemente uma revelação, inovar na experiência e na realidade; introduzir na mente e na vida dos outros, soluções que se adaptem natural e intuitivamente à sua vida. Em uma palavra, articular.

Executar

O que diferencia ao Design Thinking do pensamento especulativo é que o designer atua diretamente na ação. Não somos grandes teóricos; nós designers valorizamos as ações práticas e a função real das nossas atividades.

O Design Thinking é estratégico porque tem presente que só o que existe tem valor e que não há maior valor que atuar na realidade, mudando ou adaptando-a de maneira empática.

Nutrir

O bom design é um processo, não um objeto. Não tem a imposição das soluções mas a adaptabilidade, a mutação e o crescimento.

Concluindo

Minha esperança é que podemos convocar a que cada dia mais gente se converta em designers: gente que desenvolva negócios, que dirija organizações, agente de e para a mudança no mundo. Nossa profissão é hoje, mais que uma especialização, é uma fonte de inovação.

O que eu observo atualmente é um enorme potencial de uma disciplina que será a próxima grande revolução do pensamento. Vivemos um grande momento na história. Temos as ferramentas e o enfoque. Nossa missão como designers agora é a de crescer e nos multiplicar: fazer de toda ação humano uma experiência de Design.

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  1. Nota da redação. A tradução de Design Thinking é «pensamento designístico», «pensamento de design» ou «pensamento projetual».

Este artigo resume a palestra apresentada pelo autor na edição 2009 dos Seminários FOROALFA.

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