Como ser um designer independente

Designer independente, muito prazer

A independência como princípio, a autonomia como meta: o caminho mais curto (e seguro) para uma plena realização profissional.

Fabio Lopez, autor AutorFabio Lopez Seguidores: 64

Ilustração principal do artigo Designer independente, muito prazer

Esse é o meu cartão de visitas. Eu levei 15 anos para fazê-lo. Eu sei, eu sei… parece uma piada idiota ou um recibo acidentalmente sincero de lentidão e incompetência – só que não. O que ele tem de especial pra mim? Bom, em primeiro lugar eu me diverti um bocado juntando nesse reduzido impresso uma coleção curiosa de lembranças de alguns projetos realizados nesse período: War in Rio, selos, letterings, marcas, mini Rio…

Mas o mais importante mesmo está no verso, no que escrevi logo abaixo do meu nome: «designer independente».

Quando eu era um estudante, meu ideal de realização profissional era ser um designer bem sucedido, naturalmente, e isso se materializava pra mim na imagem de um escritório grande, com várias cadeiras caras e computadores brancos, funcionários, clientes importantes e uma boa remuneração. Que jovem designer do começo dos anos 2000 não tinha esse ideal graphic designer pimp mothafucker como modelo de sucesso na cabeça?

Por isso jamais imaginei que, 15 anos depois, eu fosse me sentir realizado ao escrever «independente» no cartão de visita. O que aconteceu com o «CEO da agência», «gerente de qualquer parada» ou o «creative director of this whole shit»?

A verdade é que, ao longo da minha trajetória, fui percebendo que o mais importante não é a aparência do sucesso, mas a essência do que eu considerava ser uma plena realização profissional. E acabei entendendo que isso estava, necessariamente, relacionado à minha independência como designer – e não a qualquer outra manifestação material de minhas ambições profissionais.

Independência não quer dizer isolamento (a gente sempre depende de parceiros, apoiadores e amigos), mas quer dizer uma liberdade considerável de propor os próprios projetos, determinar sua atuação como designer e, principalmente, poder dizer NÃO quando isso merece ser dito, um dos maiores luxos que um profissional de qualquer área pode almejar na carreira. Independência quer dizer controle, liberdade e autonomia – e não cadeiras, clientes e computadores.

Honestamente, não estou escrevendo isso para receber um tapinha nas costas pelo que sou ou conquistei, ou pelo cartão pessoal bonitinho que criei: isso só deveria ser importante pra mim. Mas me sinto muito honrado de ter recebido alguns minutos de sua atenção para compartilhar, à minha maneira, que existem opções, caso você não queira passar o resto da vida lembrando e sendo lembrado apenas pelas cadeiras, clientes e computadores que pilotou nessa jornada.

Talvez você já soubesse disso, talvez não. Eu, particularmente, fui percebendo isso com o tempo, até que minha independência profissional tornou-se um objetivo claro e urgente. Hoje é meu maior patrimônio, meu maior feito profissional, algo à que atribuo uma parte muito importante de todo o tesão que tenho pela minha profissão. E dedico todos os meus esforços cotidianos para manter isso no lugar.

«Designer independente, muito prazer»

Não existe uma decisão a ser tomada, tampouco recomendo qualquer freada brusca ou guinada violenta – especialmente em um momento pouco favorável da economia. Cada um tem seu tempo, por isso não use uma régua que não te pertence na hora de tirar as medidas do mundo. Desenvolva seu próprio modelo de realização profissional, de acordo com suas aspirações humanas e materiais. Evite ter que escolher entre uma coisa ou outra: são aspectos complementares da vida, e não antagônicos.

Pode ser que leve 15 anos pra você também, ou que isso já seja claro desde os primeiros dias de faculdade. A verdade é que esse seria o grande conselho que daria a mim mesmo, se pudesse falar com aquele jovem designer cheio de ambições. Fico feliz em nos reencontrarmos, filosoficamente, nas linhas deste texto.

Não tenha pressa, mas pense nisso. E se estiver de acordo, batalhe duro e dobrado pela sua independência e liberdade de ação quando estiver no mercado. Essa entidade não é o monstro que parece, se você definir claramente na sua vida (e ao longo de suas escolhas) quem será o condutor e quem será o carona. Molde o mercado, não seja moldado por ele (sim, isso é possível). E no final das contas, lembre-se: não importa a que velocidade você vai caminhando, importante é que esteja indo na direção correta. A direção que você escolheu e não a que o mundo insiste em empurrar você.

E depois você me conta o que escreveu no seu cartão. Boa viagem!

O que você acha? Compartilhe sua opinião agora!


Opiniões:
6
Votos:
11

Colabore com a difusão deste artigo traduzindo-o

Traduzir ao espanhol Traduzir ao inglês Traduzir ao intaliano
Código QR para acesso ao artigo Designer independente, muito prazer

Este artigo não expressa a opinião dos editores e responsáveis de FOROALFA, os quais não assumem qualquer responsabilidade pela sua autoria e natureza. Para reproduzi-lo, a não ser que esteja expressamente indicado, por favor solicitar autorização do autor. Dada a gratuidade deste site e a condição hiper-textual do meio, agradecemos que evite a reprodução total noutros Web sites. Publicado em 21/11/2018

Baixar PDF

Debate

Logotipo de
Sua opinião

Ingresse com sua conta para opinar neste artigo. Se não a tem, crê sua conta grátis agora.

Retrato de Rogério Torres
4
Dez. 2018

Faço minhas suas palavras, Fábio! Conheci seu trabalho a partir do projeto Mini Rio, que aliás é do baralho! Continuo acompanhando seus textos por aqui também. Abraço.

1
Retrato de Fabio Lopez
64
Dez. 2018

valeu Rogério! seguimos por aqui. :-)

0
Responder
Retrato de Roberto Magalhaes Silva
0
Dez. 2018

Destacando a frase que mais me impulsionou!

"Molde o mercado, não seja moldado por ele (sim, isso é possível). E no final das contas, lembre-se: não importa a que velocidade você vai caminhando, importante é que esteja indo na direção correta. "

1
Retrato de Fabio Lopez
64
Dez. 2018

\o/

0
Responder
Retrato de Mario Santiago
5
Nov. 2018

Muito bom o seu texto, Fábio. Acredito em cada uma das suas palavras e compartilho integralmente o seu pensamento. Na editora Atafona (projeto de independência editorial ao qual me lancei depois que deixei a universidade e a vida docente) busco me aproximar de gente que pensa assim e que tem a autonomia como princípio e como estatuto ético. Quem sabe um dia vc. não se aproxima da gente também? Abraço por tudo isso!

P.S.-quando tiver um tempinho, passe por aqui: www.editoraatafona.net

2
Retrato de Fabio Lopez
64
Dez. 2018

obrigado Mario! sorte na editora.

0
Responder

Lhe poderiam interessar

Próximos seminários on-line

Cursos de atualização para se especializar com os melhores

Auditoría de Marca

Auditoría de Marca

Taller de práctica profesional: análisis, diagnóstico y programa de marca sobre casos reales

30 horas (aprox.)
1 abril

Relecturas del Diseño

Relecturas del Diseño

Una inmersión en el discurso sobre el diseño para despejar sus nociones más controvertidas: creatividad, innovación, arte, tecnología...

20 horas (aprox.)
1 abril

Branding: Diseñador y Cliente

Branding: Diseñador y Cliente

Tratar con el cliente, hacer presupuestos y planificar las etapas de la creación de una marca

15 horas (aprox.)
1 abril