Os limites da Democracia questionados pelo Design
Preocupação com o uso político de bots e fakenews estavam entre os temas de mostra em Londres que misturou arte, design, ciência e tecnologia em mais de cem projetos.
AutorBruno Porto Seguidores: 38
EdiçãoLucas Monteiro Rocha Faria Seguidores: 7
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Com curadoria de Rory Hyde e Mariana Pestana, a exposição The Future Starts Here aconteceu entre maio e novembro de 2018 no notório Victoria and Albert Museum, em Londres, buscando «identificar as sementes do futuro nas atuais práticas de design e inovação». A mostra multisuporte reuniu protótipos e projetos em desenvolvimento (de veículos autônomos e sistemas de criogenia ao espelho que detecta a fisionomia, e desta forma o humor, do usuário) e projetos realizados recentemente (como o prédio da nova sede da Apple na Califórnia, inaugurado em 2017, uma passarela construída em Rotterdam em 2011 através do sistema de financiamento coletivo, e um restaurante para pessoas que gostam de comer sozinhas). No catálogo que dialoga com a mostra (mais do que simplesmente a registra), os trabalhos estão divididos em quatro seções que representam esferas de impacto da tecnologia na nossa sociedade: Individual, Pública, Global e Pós-vida.
Além de apresentar formas de aplicação de novas tecnologias para desafios transnacionais, como aquecimento global e migração em massa, a mostra incluiu também novas formas de tomadas de decisão e formatos digitais para dar vozes à opinião pública. É o caso das plataformas online criadas pela ONG britânica 38 Degrees que permitem a mobilização em torno das mais diversas causas (do banimento de pesticidas tóxicos a manutenção de bibliotecas comunitárias), ou o Pussy Power Hat, um chapéu de tricô usado por milhares de manifestantes da Marcha das Mulheres, realizada em janeiro de 2017 em Washington contra o presidente Donald Trump. O padrão de tricô open source (desenvolvido por Kat Coyle) foi disponibilizado para download gratuito, e o chapéu se tornou um símbolo mundial de solidariedade feminina. Em contraponto à estas iniciativas benéficas, vídeos e infográficos demonstravam como a Cambridge Analytics usa análise de dados e estratégias de comunicação para monitorar e influenciar eleições. Em uma instalação desenvolvida por Samuel Woolley e Alex Hogan, era possível dialogar com um Political Bot no Twitter e acompanhar como ele é capaz de influenciar a opinião pública nas redes sociais.
Entre os projetos de comunicação visual, destacaram-se as propostas finalistas apresentadas no referendo que o governo da Nova Zelândia conduziu em 2015-2016 para definir uma nova bandeira que refletisse o multiculturalismo, a independência e o crescente desenvolvimento daquele país, e o uniforme do Superciudadano («Supercidadão), utilizado em meados dos anos 1990 pelo prefeito de Bogotá Antanas Mockus para estimular a cidadania responsável de forma bem humorada. Outro projeto apresentado que questiona o conceito de »nação» foi o cartão eletrônico de residência do Governo da Estônia, que permite a pessoas de outras nacionalidades acesso a serviços online do país, como abrir uma conta em um banco ou mesmo uma empresa, visto que uma das tendências do século XXI é conduzir negócios online ou para clientes em outros países.
Muito da exposição encontra ressonância no livro Visual Impact: Creative Dissent in the 21st Century (Phaydon, 2015), de Liz McQuiston, que analisa mais de 300 projetos de cartazes, marcas, produtos, pictogramas, quadrinhos, instalações e publicações desenvolvidas após o ataque de 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas em Nova York. O livro relata como artistas e designers - dos globalmente famosos Banksy e Shepard Fairey a grafiteiros anônimos - abordam ou contribuem em casos como a Primavera Árabe, o derramamento de petróleo no Golfo do México, os diversos conflitos (e suas consequências) no Oriente Médio, as manifestações de 2013 no Brasil (Não são só 20 centavos, Não vai ter Copa), o ataque terrorista ao Charlie Hebdo e o avanço da extrema-direita no mundo, entre outras mobilizações, crises e desastres. O paulistano estúdio BijaRi está presente no livro com os lambe-lambes desenvolvidos em 2010 - e premiado em 2013 na 10ª Bienal Brasileira de Design Gráfico - para protestar contra a gentrificação e a predominância do automóvel nos espaços públicos de São Paulo.
Seja através de uma abordagem histórica, como na retrospectiva do Design Museum, ou crítica, como na mostra do V&A e no livro de McQuiston, o impacto que o design tem na política vai muito além da identidade visual das peças de campanhas eleitorais. A ressignificação que o Partido Nazista deu à suástica budista em 1920 é talvez o mais triste exemplo de quão duradouro este impacto pode ser.
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Traduzir ao espanhol Traduzir ao inglês Traduzir ao intalianoUma versão anterior deste artigo foi publicada em junho de 2018 no Blog da ADEGRAF – Associação dos Designers Gráficos do Distrito Federal.
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