Bauhaus, estética e capitalismo

Muitos autores acreditam que a Bauhaus é uma prova de que o design também possa ser político, apesar de sua origem desde um movimento de integração.

Heleno Almeida, autor AutorHeleno Almeida Seguidores: 17

Ana Bossler, editor EdiçãoAna Bossler Seguidores: 71

Há 90 anos foi fundada na cidade de Weimar, na Alemanha, a primeira escola de design que temos conhecimento: a Bauhaus. Tinha em seu quadro de professores os maiores artíficies, arquitetos, pintores, escultores e artistas da Europa e, talvez, do mundo, naquele momento.

A Bauhaus se inseriu na lógica produtiva do aumento da oferta que leva à redução de preço, atingindo um maior número de consumidores, (1923 a 1930),  mostrando que a produção poderia ser racionalizada através da redução de custos com ganho de escala,  levando à massificação do consumo.

Foi um dos primeiros passos para o surgimento do pensamento racional que marca o design, enquanto projeto voltado à produção e à competitividade. Este elemento foi decisivo para que o designer saísse da idealização artística para a realidade racional das indústrias que necessitam comercializar seus produtos, fazendo com que o design ingressasse no sistema produtivo, integrando a cadeia entre desenvolvimento e comercialização.

Esse momento político foi enfatizado na segunda fase da Escola (1923-1930), sob a direção de Hannes Meyer, um marxista assumido, fase essa caracterizada por uma maior preocupação social. Nesta fase, ocorreu a popularização da produção da escola, buscando oferecer bens à classe produtiva, daí porque vários autores atribuem este procedimento à ideologia que Meyer seguia. Foi destituído em 1930 por Walter Gropius (Membro Conselheiro da Bauhaus).

Em 1933 o regime nazista pôs fim à escola e seus profissionais migraram para América, onde fundaram novas correntes de design, que mais tarde estimularam o surgimento de outras escolas pelo mundo nas décadas seguintes.

Após a II Guerra Mundial, vemos o surgimento da «indústria de massa» para estimular  a demanda, na qual o design tornou-se um forte fator diferenciador para as empresas. Ganha força o Styling Americano (corrente baseada na velocidade e aerodinâmica aplicada nos produtos), a qual tem em Raymond Loewy seu maior expoente. Loewy criou produtos e conceitos que ainda perduram-o design interno de nossas geladeiras foi design projetado por ele!- e é tido por alguns historiadores como precursor do american way of life, o dito «estilo de vida americano» das décadas de 40, 50 e 60. Alguns anos mais tarde é fundada a Escola de Ulm  na Alemanha, dirigida por Max Bill, famosa por trazer o «cientificismo» para o design, fazendo-o assumir o status científico-produtivo-conceitual atual.

Também podemos nos arriscar em afirmar que a estética como elemento funcional, estimulou o fomento de capital e lucro nas empresas, aumentando a demanda por bens diferenciados, fato incontestável nos dias de hoje. Com o design agregado à produção industrial, somando-se ao surgimento do marketing como ferramenta de gestão empresarial/estratégica nas empresas, o termo «indústria de massa» passa a ser aprofundado, o produto se aproxima dos desejos do consumidor –quick response– e temos em seguida um novo termo: a segmentação de mercado, que evolui em seguida para a customização de produtos industrializados.

A partir deste novo conceito, aliado ao avanço tecnológico das mídias e meios produtivos, mergulhamos profundamente no modelo capitalisma predominante até a crise financeira de 2008,  no qual, apesar do design ser ainda eventualmente tratado com mero ornamento estético, ele orienta a venda dos produtos em mundo globalizado, agregando valor como inovação.

A história da Bauhaus é marcada por suas ideologias, por seus professores –Kandinsky, Mayers, Gropius, Marcel Breuer, Moholy-Nagy, Ludwig Mies van der Rohe, Johannes Itten–, e o legado de seu estilo e visão dos modos de produção até hoje permanecem modernos e atuais. A Bauhaus sempre será o ponto inicial da análise histórica/conceitual do design, pois foi nela que nossa profissão ganhou forma e definição. Longa vida ao legado da Bauhaus!

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Retrato de Fabio Lopez
64
Abr. 2014

Caro Heleno, o grande risco de um texto panorâmico reside na necessidade de se planificar eventos de enorme complexidade em nome do árduo desafio de se estabelecer conexões lineares e assertivas entre os vários fatos concatenados: só assim é possível caber um século da história do design em poucos parágrafos. Você simplificou a experiência Bauhaus de um jeito muito particular, e projetou sobre as inúmeras discussões de natureza estético-filosófica da escola um enfoque compactado do século XX tardio, que dificilmente dá conta de explicar o longo percurso de uma disciplina em formação.

2
Retrato de Heleno Almeida
17
Abr. 2014

Concordo Fábio. Quase 100 anos de fundação, seus desdobramentos, a evolução do design no século XX a partir das bases criadas na Bauhaus não dá pra explicar profundamente em poucas linhas. O debate que até ela (Bauhaus) gera, permeia o design. Obrigado pelo comentário!

0
Retrato de Fabio Lopez
64
Abr. 2014

E como diria Gui Bonsiepe, não existe design apolítico. Toda ação projetual é uma ação política, vinculada a noção que o indivíduo tem de seu papel na sociedade. Projetar é afirmar algo - sempre - não importa se feito de forma intencional ou não. Vida longa a escola e obrigado pela resposta. :-)

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Responder
Retrato de Fabiana Heinrich
2
Abr. 2014

Caro Heleno, estou estudando Design e Estética, e fiquei com uma dúvida após ler o teu texto: nele, mencionas "estética como elemento funcional" e, depois, "design como mero ornamento estético". Será que podemos considerar que a principal relevância do Design (e, portanto, sua razão de ser) nos objetos produzidos industrialmente é aquela de ordem estética, já que é este o aspecto que parece prevalecer nas instâncias de produção, circulação e consumo de objetos industriais?

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Retrato de Heleno Almeida
17
Abr. 2014

Fabiana, tudo bem? A estética em um projeto de produto é uma função básica. Em alguns objetos, é a função principal em outros, secundária.

O autor Bernd Löbach (Design Industrial: Bases para configuração dos Produtos Industriais) lança fundamentações bem interessantes sobre sua pergunta -> Enlace e você poder ler algum conteúdo deste livro neste link -> (Enlace

Obrigado pelo comentário!

0
Responder
Retrato de Alberto Cipiniuk
6
Abr. 2014

É curioso como essa crise do design é ainda mal compreendida, isto é, chamada de política. O que há é um debate ideológico entre o design social e o design de mercado. A ação política é fascista e hipócrita, aquela que defende um design frívolo, sem entranhas. Enfim, não consigo entender como esse debate não é atualizado. A menção desse problema fica sempre no passado, no caso da Bauhaus e penso que deveríamos discuti-la nos dias de hoje, onde as escolas de design recrutam e formam produtores de objetos fúteis.

1
Retrato de Heleno Almeida
17
Abr. 2014

Também tenho essa inquietação. Obrigado pelo comentário!

0
Responder
Retrato de Joaquín Eduardo Sánchez Mercado
566
Abr. 2014

¡Viva! pero donde no estoy muy de acuerdo es en la escuela de Ulm, de ahí para acá no me convencen mucho los cambios, o bueno, por lo menos la parte "científica" y neoliberal.

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